segunda-feira, 13 de julho de 2009

Na praça.

Há dias que nos dão um gozo tremendo. Há dias que nos dá vontade de acreditar que o egoismo, a miséria, a hipocrisia e porque não, o capitalismo, vai ser banido do mundo.

Conheci hoje um senhor, olhar no chão mas sorriso aberto. Estava sentado no banco da Praça do Giraldo em Évora. Perguntei-lhe se me podia sentar, "claro" respondeu ele. Sentei-me, meti conversa com um típico "Já viu este calor" e ai a voz soltou-se. Era bonita a forma como ele falou da esposa e da filha, um orgulho só visto naquele olhar "Um dia a minha mulher disse-me para me deixar de politiquices, mas eu não podia, todas as porradas que levei nas costas valeram a pena na noite de 24 de Abril."
Perguntei-lhe porque levou porrada e disse-me ele com a voz a começar a embargar-se: "Olhe, porque não queria estar calado, na empresa onde trabalhava chegava a trabalhar 12horas, e sem receber mais nada. O Patrão dizia que não podíamos sair enquanto não terminássemos, então ficávamos ali a trabalhar, não podíamos dar-nos ao luxo de perder o emprego. Um dia aproveitamos o 1º de Maio para nos manifestar-mos na empresa, queríamos salário mais altos, o patrão chamou a GNR e queriam saber quem tinha organizado aquilo, tinha sido um rapaz de vinte e poucos anos e dois filhos, eu sabia que eles iam dar-lhe porrada e ele talvez até saísse da empresa, acabei por me acusar, levei porrada até ficar enrolado no chão, no outro dia o patrão mandou-me nunca mais ali voltar. Foi o meu ultimo dia lá."
Ouvi mais algumas conversas, conversa de quem não tinha nada a ver com o PCP, conversa de quem pensava no colectivo: "Porque lutou tanto, porque se sujeitou tanto?", os olhos baixaram:"Se todos pensássemos em todos, se eu hoje estivesse preocupado com o meu vizinho, e o meu vizinho com o outro vizinho, nós estávamos todos bem, mas infelizmente os meus vizinhos só se preocupam com eles, e então estamos todos mal, e alguns estão muitíssimo bem."

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