quinta-feira, 23 de julho de 2009

o meu viiznho

O meu vizinho era agricultor. Sempre o foi, aprendeu a ler porque o doutor que tomava conta das terras achou que todos deviam aprender a ler. Então, uma hora por dia, entre as 17h e as 18h levava todos os trabalhadores até ao casarão e ensinava-os a ler. O meu vizinho hoje pode sentar-se na varanda e ler o Jornal, e quando eu lá chego com um livro e me sento ao lado dele, antes que eu possa sequer procurar a ultima página que li, lá me diz ele: "Rapaz, isto não anda famoso", secretamente não me interessa o livro para nada, interessa-me mesmo é a conversa e os ensinamentos de quem conheceu a economia da terra, de quem cursou a sabedoria da vida.
"Rapaz, li agora que nós apenas produzimos um terço do que comemos. Estamos a vender-nos aos outros sabes. Quando eu era agricultor, tínhamos trabalho o ano todo, tínhamos comida para nós, e para os outros. Trabalhávamos muito, é verdade, mas podíamos dizer que a terra que sujava as batatas era nossa. Agora, meu rapaz, nem sabemos de onde vêm as batatas, nascem sem sujidade. E sabes o que mais me custa, não é viver com as batatas dos outros, é que podiam ser eles a viver com as nossas batatas e ninguém deixa. Temos campo que dá para produzir para nós e para eles. Temos trabalhadores que querem apenas uma terrinha para trabalhar. Mas neste país onde todos acham que temos de viver à custa de alguém andamos assim, com terra, muita, mas sem batatas. Com mar, muito, mas a comer as sardinhas dos outros. E até os médicos já importamos. No dia em que tivermos alguém a mandar que pense em nós, a crise abala, mas agora, em que cada um pensa no seu bolso, a crise continua para nós dois, para outros tantos milhões, menos para aqueles que se senta naqueles carros grande comprados com o dinheiro que era para plantar batatas."
E eu calei-me, porque mesmo depois de quase 20 anos de estudo, a sabedoria deste homem é dos maiores ensinamentos que eu posso receber.

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